A Lei Paulo Gustavo e seus desafios

Por Valter Carriel 18/07/2023 - 16:24 hs

Reflexões sobre o discurso artístico diante do aporte financeiro que garante recursos para projetos culturais na cidade de Mauá

Partindo do princípio de que a arte é necessária como elemento participante da construção do equilíbrio do homem devemos entender que ninguém vai inventar a roda cultural em Mauá.

Para o homem pré-histórico, anterior à escrita a arte foi um meio de expressão gráfica. Os sinais deixados, os desenhos, as pinturas e gravações demonstram que pouco a pouco o homem foi firmando seu poder sobre os outros animais e impondo sua presença, deixando seus traços, compreendendo, interpretando, tornando significante os elementos do seu ambiente.

Parece-me oportuno relembrar aqui alguns recursos cênicos utilizados por jesuítas no Brasil, no período colonial, para evangelizar indígenas por meio do teatro, mostrando-lhes as belezas do céu aos tementes a Deus, e as penas e horrores do inferno aos que não seguiam a fé católica. Valiam-se até de recursos cênicos com efeitos óticos, usando luzes de lanternas sobre figuras recortadas de anjos, santos, dragões, serpentes e demônios. Tais práticas continuam sendo utilizadas em Mauá como forma de manutenção de pequenos poderes.

Em Mauá existe a cultura da vingança e a vingança da cultura. Não conseguimos avançar, continuamos no período de distribuição de espelhinhos para demarcar território. Cultura é uma forma de expressão social e política do homem. Apresenta reflexos de formas de pensamentos, épocas e vivências sociais. Funciona como retrato de um período de uma sociedade. Sendo assim cabe aqui a máxima que diz que não podemos dar pérolas aos porcos.

É por essas e outras que para ser um gestor de cultura precisa-se ter saúde mental. Estar bem consigo mesmo e com os outros. Aceitar as exigências da vida. Saber lidar com as boas emoções e também com aquelas desagradáveis, mas que fazem parte da vida. E principalmente entender que o que é público é público e o que é privado é privado.

Não podemos ser vítimas da ganância de golpistas caçadores de níquel. Precisamos entender o que significa a Lei Paulo Gustavo em meio ao aniquilamento e retrocesso cultural de um governo fascista e uma pandemia que nos transformou em uma terra arrasada.

A cultura da ignorância e a destituição de um conjunto de valores até pouco tempo considerados essenciais para as vivencias individuais e coletivas. O desprezo e o estimulado desconhecimento às artes, à história, à ciência, à filosofia, etc. O desprestígio dos livros e o aviltamento da memória faz com que a cultura de rebanho se instale e se institucionalize nos órgãos públicos da cidade.

O pensamento de rebanho, também conhecido como mentalidade de manada, refere-se à tendência de pessoas simplórias se conformarem ao comportamento, opiniões e atitudes de um determinado grupo, manipulador, muitas vezes intitulados como conselhos e gerências, porque não confiam em sua capacidade de ter pensamento crítico.

Um homem de quarenta e dois anos foi agredido no interior de São Paulo porque estava abraçado com seu filho de 18 anos. De acordo com o que se informou, um grupo de jovens se aproximou deles perguntando se eles eram um casal gay. Mesmo diante da negativa, os dois foram agredidos, e parte da orelha do senhor foi arrancada.

Nenhum progresso econômico é capaz de amenizar nosso atraso cultural nem nossa desordem e intolerância e hostilidade aos diferentes.

Uma coisa é lutar pela sobrevivência, estando isolado em uma ilha (que foi o caso de Robinson Crusoé). Outra bem distinta é viver em comunidade (ou seja: “con-viver”). A partir do momento em que um outro ser humano aparece na “ilha”, não há como não tratá-lo como um semelhante. E jamais você pode fazer com os outros o que gostaria que não fizessem com você.

O mais preocupante é que certas pessoas que, atuam da maneira como atuam, no gerenciamento da cultura da cidade de Mauá “para fazer o bem para todos” são forasteiros, caçadores de níqueis e sempre candidatos a vagas de empregos que lhes proporcionem ordenado e pequenos poderes. É chegado o momento de desconfiarmos dessas pessoas e suas ideologias totalitárias que querem criar “seres humanos melhores”! Fuja disso, companheiro (enquanto é tempo).

Quanto a lei Paulo Gustavo, a quantidade de municípios que estão perdidos sem saber como geri-la da forma correta é muito grande. Mauá não seria diferente. Afinal o problema não é ter dinheiro. O problema é ter dinheiro e não querer distribuir de forma correta e ou distribuir como esmola ou por dó.